sábado, 29 de outubro de 2016

Ziguezague e rosas brancas



Quem tem por hábito - será mais uma mania, valha-vos Deus! - passar na Tasca, calculará que ando com o feitio do costume, elevado a uma potência semelhante a um livre direto do Geraldão. E os filtros? Ui, se já eram muitas vezes difusos, agora são uma ausência quase tão grande como  a do Kralj numa baliza.

Ainda assim, voltarei na quarta-feira ao Dragão e, por isso, tratei de ficar a par do que se vai passando, para não fazer figuras tristes. E concluí que um gajo não se pode distrair. Armam logo um banzé que já nem São Francisco de Sales - Padroeiro dos surdos - os pode ouvir. Credo.

É, pois, uma bela, excelente, estupenda até, altura para fazer um ponto de ordem à mesa. Até porque ando com o estômago fraquinho como o ânimo e, quando se mete um zague repentino, acabo a vomitar-me todo no zigue.

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BLABLABLA

Ainda faz pouco tempo que andava tudo a desancar alegremente no Presidente, porque não falava. Ele eram os Campeonatos perdidos à conta disso, ele era a morte do ADN, o falecimento da Mística, as comissões, a senilidade, you name it. Eu, como acho que São Francisco de Sales é Padroeiro de cerca de 95% da população Portuguesa, não concordava lá muito com isso. Escrevi-o as vezes suficientes.

Agora, o Presidente parece que não se cala. Fala para o Canal; fala à margem do descerramento da placa; fala na inauguração da casa; na abertura da exposição; no trânsito engarrafado; e maijonde quer que o queiram ouvir. Os surdos.

E pumbas, procede a malta, em alegre cantoria, a desancar o homem. Porque fala demais? Nada disso, isso são preocupações de gente sem ADN, sem Mística, gentalha que deve - inclusivamente - ter tímpanos. O Presidente apanha porque não fala do que eles acham que deve falar. Sim, porque isto não basta chegar aqui e fazer o que lhe dizem. É importante é perceber o que querem que faça a cada momento, ainda que possam ser coisas contraditórias.

Afinal, de que deve o presidente falar? Dos vouchers, já se sabe.

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É A DEMOGRAFIA, ESTÚPIDO

De embirrante, o homem não se pronuncia sobre os ditos vouchers. Até parece de propósito, para chatear. Então não lhe ficava tão bem abrir as goelas e juntar-se à luta - que continua, Avante camaradas esverdeados! - do Bruninho? Isso é que era defender o interesse supremo do FCP.

Sabemos todos que, em Portugal, Jorge Nuno Pinto da Costa pronunciar-se a favor ou contra alguma coisa, é logo um passo decisivo para que o assunto se resolva a contento. Dos outros. 

É que se está mesmo a ver que um caso, alegadamente, sob a alçada do Ministério Público - do nosso, de Portugal! - ia caminhar velozmente no sentido mais azul e branco que possam imaginar. Bastaria um sinal do Presidente. Mas ele está senil e não quer saber do Clube e kerécomissões e isso assim.

Vai dai, apela-se a plenos pulmões que o FCP siga o SCalimeroP. Engrosse as fileiras dos batalhões LIDERADOS pelo Bruninho. Sim senhor, aí está um belo contributo para a recuperação da nossa grandeza: Ir atrás da Calimeragem. 

Oh senhores, deixai o lagarto tratar da questão que levantou, levá-la até ao limite. Perder, naturalmente. Mas se, por bambúrrio, ganhar, que mal nos advirá? Isso mesmo, lindos meninos: Nenhum!

Por isso, em vez de estarem preocupados em ter o que dizer, aprendam qualquer coisa com quem anda a virar frangos há mais de 30 anos. E que bem que vos têm sabido. Os pitos. No churrasco.

Depois, assisto a acesas discussões acerca do facto de alguém se deixar corromper por não sei quantos patacos, dentro de uma caixa, por baixo de uma camisola do Eusébio. Não percebo como se perde tanto tempo com coisas sem interesse nenhum. 

Olha, acho que deviam fazer disto o tema principal da próxima Assembleia Geral. Vejamos:

Em Portugal, podem não haver 6 milhões de lampiões. Mas há, seguramente, uns cinco. O nosso crescimento sustentado em vitórias, deve já ter-nos colocado a par da lagartagem. Acreditam mesmo que somos mais? Olhem que não, olhem que não. Somos só muito melhores.

Digamos que 1 milhão - provavelmente menos - são as pessoas que torcem genuinamente por outros Clubes. Malta que não conta para o Totobola portanto. Agora faça-se uma conta simples:

Em qualquer orgão colegial - a bem da tese, convencione-se que com 10 elementos - é muito provável que existam 5 lampiões, 2 lagartos, 2 pessoas como deve de ser e 1 gaja que tem que se despachar para ir às compras. De igual forma, em cada 10 pedreiros, escolhidos numa amostra aleatória estratificada, representativa da populção Portuguesa...pois, isso mesmo. Assim como no caso dos árbitros. 

O voucher não pretende comprar ninguém. É um mimo. Uma recordação que se entrega ao cachopo no dia de aniversário. Aqui tens, meu filho, a camisola que o teu avô usava quando iam os dois jogar à bola. Paz à sua Alma. Dá cá um abraço ao pai. Agora vai ajudar a tua mãe a lavar a loiça, sem fitas. E ele vai, feliz, de Alma cheia. Capisce?

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PORTO CANAL

Aquela questão demográfica deve ser combatida? Pois claro que sim, dizem as pessoas que conseguem alinhar dois pensamentos seguidos. E como? Crescendo. 

Para crescer, é fundamental que se comunique. Mas se vamos por-nos a falar exclusivamente para os profundamente religiosos do azul e branco - como somos nós que aqui estamos, gabo-vos a paciência! - ficaremos na mesma. Temos que ir além.

Para nós, além não é do Tejo. Não para já. É do Douro, do Minho talvez. Seremos tão mais fortes quanto mais representarmos uma Região. Alargada. Mais que o Porto, Portucale. 

É por isso que faz sentido o nosso canal ser generalista, mas regionalista; aberto ao País e ao Mundo, mas com uma perspetiva Nortenha das coisas. É por isso que faz sentido transmitir a Gala do Braga, por exemplo. E a do Guimarães. E os jogos do Canelas, já que estão a proibir a MMA em todólado.

Portanto, o Porto Canal não pode ser emitido de uma cave no Dragão, com o objetivo único de ser o MEU, O TEU, O NOSSO CANAL. Entendem, Luises?

Diga-se, por ser verdade, que eu não vejo o Porto Canal. Ou seja, não estou a emitir nenhuma opinião sobre o que é o dito cujo. Apenas sobre o que penso que devia ser.

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A GALA

Por falar em Gala, também nunca assisti aos Dragões de Ouro. Mas avanço já que acho absolutamente in-dis-pen-sá-vel que existam. Ao contrário da corrente que defende que é uma fantochada e que não serve para nada, portanto.

Mais, acho que deve ser uma festa do caraças, cheia de glamour, o máximo possível, com fotos numa passadeira azul e branca, dress code fato escuro, grandes rachas e decotes e a populaça apinhada por trás das barreiras, para ver as estrelas. Deve haver manifestações intensas de Portismo dos premiados e encerrar com O discurso do ano do Presidente.

Deve ter belos artistas e ainda mais belas gajas a desfilar, só porque sim. Claro que devem ser artistas reconhecidos, muito mesmo. Gente que, por exemplo, ponha não-Portistas a assistir à Gala do FCP. 

Podiam convidar-me a mim para ganir, que eu levava o Vassalo na bateria e o Lima nos samples. Era engraçado, muito Portista, mas não serve. Pois não?

Kerkásaber se os Deolinda falam do 5LB numa letra, ou quantos deles são estúpidos ao ponto de serem lampiões. Quantos dos Blind Zero são Portistas? O Fernando Ribeiro, dos Moonspell, é FCP. Os Moonspell são cinco. Se não é para ter o que dizer, é o quê? Tempo a sobrar? Problemas em entender a demografia?

Note-se que não se referiu nenhuma lassidão quanto aos convidados. Não se volte a convidar quem nos deseja mal, por escrito, todos os dias.

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O ANDRÉ

Um dos galardoados este ano foi o Silva. Merecido hein? Todos de acordo. 

Mesmo todos os que encheram caixas de comentários de impropérios contra a gestão danosa de deixarmos o ataque entregue a um miúdo, ziiig. 

Os que se indignaram por se ter arranjado a martelo um Belga desajeitado, em vez de um titular de caretas, para deixar o miúdo crescer, ziiig. 

Era no banco que teriam gostado de ver este Dragão de Ouro.

Ah, mas não, ele é protótipo do jogador à Porto. E ainda marca golos que se farta, por cima. Sempre se viu o que ali estava, prestes a explodir, era preciso ser ceguinho, zaaag. 

Infelizmente, vai ser despachado muito depressa, para alimentar a corja que agora manda nisto tudo, pobre menino, zaaag.

E eu vomito-me, pois claro que me vomito.

Do André, já aqui se disse tudo. Há mais de dois anos que ando a dizer coisas do André. Umas boas, outras más. 

O que importa é o timeline: As más foram há mais tempo. Chama-se evolução. E, honestamente, não sei onde vai parar. A uma Galáxia qualquer, de certeza.

O que define AS é o penalty em Brugges. Ele sabia que ia entrar. Mesmo que não entrasse, aquela frieza, a coragem, a confiança, definem o jogador. Como definem CR7. 

Não me lembro de mais nenhum termo de comparação, nascido em Portugal. Falamos daqui a uns anos, poucos, ok?

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MENTIRAS E ORÇAMENTOS

Já que tratamos do André, despachamos já esta treta dos Orçamentos.

Tinham propostas de 95 milhões, tinham, pfff, nem eu sou tão mentiroso. Era esta a "linha oficial" do bota abaixo quanto ao orçamento do buraco, certo? Mais, se tinham mesmo, porque não venderam? O Clube acima de tudo! O fairplay, becabeca, as contas, becabeca, as mais valias vezes a faturação menos a incongruência, becabeca. Incompetentes, ladrões, senis.

Se vendessem, estavam a assaltar o Clube, a hipotecar o seu Futuro e a destruir qualquer chance de Presente, naturalmente. Sem espinha dorsal, becabeca, sem Herrera o que será de nós, becabeca, o miúdo que ia crescer no centro do nosso ataque, becabeca, o plantel a dividir pelos ordenados elevado à mesma incongruência, becabeca. Incompetentes, ladrões, xéxés.

De seguida, vem outro orçamento. Aqui d'el Rei que é suicida, arriscado, Cristo na Cruz tinha mais hipóteses de se safar que nós com estas contas. 

E manifestam-se genuinamente surpreendidos, como se JNPdC não andasse a arriscar há mais de 30 anos. Sempre. Tanta conta que sabem fazer, podiam fazer esta: Quantas vezes correu bem, menos quantas vezes correu mal, igual ao grau de confiança que deviam ter. Eu tenho.

Ui, sim, sim, 115 milhões em vendas, lá se vai o miúdo que era para passar o ano no banco, mais o Mexicano que ainda há-de ser louvado, mais a Fernandinha. Essa até já foi andando, para se ambientar. Esquecem que só no fim desta época desportiva saberemos se são mesmo 115, ou menos, ou mais até. 

Seja como for, olhando para o André, apetece-me gritar: AQUECE RUI PEDRO, QUE VAIS ENTRAR. E tão quente que ele tem estado...

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ISTO NÃO É UMA AMEAÇA...

Ele saía do mercado com três rosas brancas numa mão - onde parecia ainda notar-se o hábito de serem apenas duas - e uma recarga de vela na outra. Das de cinquenta cêntimos.

A senhora com o colete amarelo e uma caixa de esmola ao peito, aproximou-se sorridente. Disse rastreio, investigação, tratamento, cuidado, apoio. E estendeu a caixa.

Ele disse:

- Não é a melhor altura.

Ela retorquiu:

- É sempre boa altura para ajudar. Para salvar vidas.

Um dique explodiu na mente. Sabemos nós, vendo de fora, porque se notou nos olhos. A torrente desbravou caminho:

- Sabe, o que eu acho hoje é que isso nos vai levar a todos. Os que não forem, morrerão de solidão. É isso que eu acho, minha senhora. Estou perfeitamente a lixar-me para os seus rastreios, para a sua investigação da treta, para a quantidade de balelas que me querem impingir, enquanto a Morte me cerca, me mata pedaço a pedaço, membro a membro, susto a susto, Amor por Amor.

Calou-se. Ela aproveitou para pestanejar. Senhoras outras entreolharam-se de espanto e indignação.

- Mas... - Arriscou ainda. 

- Mas nada. Falamos daqui a algum tempo. É certo que estarei diferente e verei com outros olhos o seu pedido. Agora, minha senhora, agora vou para casa fumar 50 cigarros, comer enchidos e toda a carne processada que encontrar, com batatas muito fritas. E ovos estrelados em banha de porco. Regados a tinto carrascão e refrigerantes mega-açucarados, carregadinhos de corantes e conservantes. É isso que vou fazer. Com licença, que tenho onde deixar as minhas flores. E acender a minha vela.

- Pfff, que mau feitio. - Disse uma senhora, enquanto apanhava os sacos que tinha pousado no chão.

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Soundtrack to bad temper: Hates us all!


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Do Silêncio - O Céu devia esperar


Olá, sou eu. Como estamos hoje, meu Amor? 

Chegámos tarde, pois claro, mas fizemos boa viagem. A casa está inteira, tudo no sítio, os bichos cheios de saudades e alguma fome. As meninas estão bem, a mais velha a cruzar um Céu qualquer - cuidado pá, desvia-te, acho que eles conduzem mal - a patroa pronta para as suas lutas. A pequenita não queria ir à escola hoje. Estava a tentar encontrar o bright side de se sentir triste, sem conseguir ainda entender muito bem a dimensão dessa tristeza. Não lhe vou dizer que não acaba amanhã. 

A Vida continua.

Só que não. Às vezes não continua. Como é que pode ser a mesma Vida? Tínhamos que estar juntos para te poder tentar explicar o Silêncio. Não é trágico, nem dramático, mas oprime. É pesado e pastoso, como a comida do Hospital, sabes? Não flui, é um monólito imenso de negrume. Como se, só por existir, manifestasse a sua Eternidade. 

Oh, não sei explicar-te assim. Precisava de te dar a mão e desviar o meu olhar do teu, para sentires só nos dedos - e não nos olhos - o que te quero dizer. É como se fosse absoluto. O Silêncio absoluto, impossível de ser pensado ou descrito. Tão grande e tão profundo, que só de sabê-lo se percebe que não se move. Vou tentar rodeá-lo, apanhá-lo à traição, enganar o que não se deixa levar. É uma boa ideia, não é?  

Estás só a dizer "pois, pois" a ver se me calo depressa, certo?

Olha, não estou lá muito contente com isto de já não ter com quem ser pequenino. Parece que me deram dois pontapés e me obrigaram a sair de casa. Vê lá que me sinto demasiado velho para não poder ser um catraio. 

Sim, está bem, eu sei, não se acabaram os colos. Mas pensa lá, quantas vezes me deste colo? Não é isso, pois não? É a liberdade de ser quem me apetecer. É haver quem diga "vai ficar tudo bem" e isso fazer sentido. A paz de isso bastar, mesmo que eu não mexa mais uma palha. Era. 

O pretérito que te rouba é meu inimigo. Figadal. Sim, sim, esqueço, espera aí que já esqueço. Não sou como tu. Se puder, atropelo-o. Os. Atropelo-os, a todos os pretéritos que me obrigam a aprender a viver esta Vida toda nova.

É uma merda, isso sim. Enquanto pudeste substituir as perdas, eu consegui ser o mesmo. E agora tenho medo de não saber quem sou. 

Que queres que te diga? Se era para saber de ti, tinha ligado a um dos bebés ou ao Zé. Vim só maçar-te comigo, mesmo. E habitua-te, porque não tenho planos para deixar de fazer isto. Apesar de seres uma mal-educada que não responde.

Agora, o mais perto de ti que consigo estar é rodeado dos pedaços de Amor que semeaste. Preferencialmente, os nacos maiores. Por estes dias, foram uma espécie de ninho. A roda onde, ainda assim, me fiz sentido. Eu sei que devia ser ao contrário, desculpa por isso. Mas acho que não consigo. É que eu carrego todo este Silêncio negro e absoluto e cheio de ódio mastigado. Eu não Amo como tu, mana.

Eles continuarão a espalhar a tua palavra. 

Eu vou atrás, confio. Mas hey, nós vamos falando. Até já.


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Com ar um tanto comprometido:

- Então, Pedro, temos gente nova?

- Sim, Senhor. - Profissional.

- Chama aí, que quero dar as boas-vindas. 

- Pessoalmente, Senhor? - Surpreendido e excitado com a solenidade da ocasião.

- Sim. - E vira-lhe as costas, enquanto o enxota com um sacudir dos dedos. O outro regressa rapidamente:

- Senhor. - Olhos no chão, envergonhado.

- Ah, sim, pois. - Olha à volta. - Então, onde está? 

- Diz para esperar um pedacinho. Está lá fora a fumar, com a mãe...

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Resumo de muito tempo: Alterne



A Vida é, de facto, uma montanha. Andamos que tempos a arfar na subida, desdizendo a sorte, a inclinação e a nossa fraca capacidade pulmonar. E sobe que sobe, como se a Vida fosse a Calçada de Carriche. Com sorte, suor, lágrimas e algum sangue - espera-se que pouco dos três últimos, por causa dos cheiros, das dores e do nível de hemoglobina - lá chegamos a um suposto topo. Vai-se a ver, nem damos por ele, talhados que estamos para subir e subir, lufa, lufa, marche, marche, anda para cima que vem gente atrás. De ti.

Sabemos que lá estivemos quando damos por nós a travar a fundo. Ôôôôaaaa, mansinho, doucement. Vamos com calminha que não há pressa nenhuma em chegar lá abaixo. Da cova que nos guardaram. Se alguém, por gentileza, nos guarda alguma coisa.

A maravilha da descida é que, finalmente, nos damos conta do panorama. Xinapá, a quantidade de coisas que havia aqui à roda. E eu sempre a subir, licra aberta, boné ao lado, aguadeiro - se o mereces - apostos, um selim a magoar o rabo, para que não descanses, sobe que sobe, lufa, lufa, marche, marche, pé na tábua, sapatilha no pedal, cuidado com a cremalheira.

Isto tudo, porque acabo de concluir que a minha formação na área do usufruto da prostituição é inexistente. Das duas uma: Ou ainda vou a subir e não tenho tempo para essas minudências; ou já estou a descer e começo a pensar como um velhote babado. 

Either way, não faz diferença. Se não foi pela hormona da juventude, não será pelo espermatozóide sobrevivente da velhice que vou - ainda que numa abordagem de interesse meramente sociológico, pois claro - conhecer os prazeres e desprazeres deste tipo de diversão. Estou apostado em guardar toda a energia e, por maioria de razão, qualquer espermatozóide, para tornar numa farra determinada descida pela encosta da Vida. Uma que partilho.

Isso é bom, porque posso, para além de evitar uma gonorreia ou assim, manter os meus conceitos, não testados empiricamente, sobre estas badalhoquices. Digamos que do ponto de vista da Prostituição com Base na Evidência, meto dó. Em contrapartida, há todo um Universo que posso construir sem risco de me desiludir.

Por exemplo, tenho para mim que há uma diferença clara entre uma Casa de Alterne e um Bordel. Não, não é apenas isso. Enquanto o Bordel remete para gajas boas, de pele macia, e cetim e lantejoulas e rendas e lingerie - uma ou outra coulotte no faroeste da meninice; a Casa de Alterne soa-me a respeitáveis banhas, comprimidas em espartilhos e cintas, meias rotas, sapatos descascados e patchouli a disfarçar o cheiro a refogado nos dedos, ao som do Chris de Burgh e do Lionel Richie. Há todo um glamour que se perde quando se pronuncia a palavra alterne. Eu cá, se fosse profissional do setor, queria antes ser puta do que alternadeira. É isto.

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Há histórias de Vida que me confirmam aquela impressão. Por exemplo, o nosso Toninho Guterres subiu a sua montanha. Quem se lembra de o ver a rodopiar indiferente na pista mal enjorcada de um Bar de Alterne manhoso, no meio de um pântano, e agora olha para ele, todo griffe e agenda cheia de nomes famosos, percebe que fez o seu caminho.

Eu nunca duvidei que lá chegaria, elevando o nome da Nação (e isto é sem ironia, mesmo!). Para começar (modo ironia on), nenhum outro candidato, nem candidata, tinha um argumento tão forte como "opáááá, vocês sabem lá purondeujándei co'a Angelina. Ui, ui". Por outro lado, o seu ar clerical vai bastante bem com a função de servir cafés nas reuniões do Conselho de Segurança: Discreto, eficaz, perseverante, atencioso, sorridente qb. Um ou dois torrões no seu coffee, tovarich?

Acho que vai correr tudo bastante bem. Para além de organizar umas jantaradas para aquela malta e fazer declarações de circunstância quando há uma catástrofe - e nos dias que correm, se ganhar por intervenção, o homem está governado - a missão principal do Toino é tomar conta dos meninos, enquanto os EUA e a Rússia tratam de coisas de gente crescida. Diz que não precisa de fazer muitas contas.

Um gajo pensa: Foda-se, quem diria, hein? Ele é Presidentes da Comissão Europeia, Secretários Gerais da ONU. Estamos a recuperar o nosso lugar no Mundo ókê? Logo a seguir, percebo que ókê. O melhor que temos é mesmo uma quantidade de Bolas de Ouro e sermos Campeões da Europa de Futebol. Vai-se a ver, sou um labrego que não merece a Pátria que tem...

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Já o gerente de uma Casa de Alterne tem uma carreira menos promissora. Quando penso nesta personagem, imagino sempre um tipo baixo e magrito, com um fato lilás, camisa amarela, lenço de lapela azul pitroil e sapato bicudo bem envernizado. Com dois berloques. E saltita de um lado para o outro, entre as nódoas dos sofás e da alcatifa pele-de-rato do estabelecimento, a controlar comissões e copos de espumante marado.

Mas num Bordel não. Vem-me logo à cabeça uma matrona, cheia de carnes, é verdade, mas impecável no seu perfume Francês e matadora no olhar, a um tempo experiência e provocação e ousadia. Flutua, quase diáfana, pelos corredores, certificando-se discretamente que as portas estão fechadas - ou abertas, consoante o grau de ocupação dos quartos - e que todos mantêm a classe e a paz. Laboral.

Não se pode ir de um a outro, por muito que se tente. Ainda agora, o gerente de uma afamada Casa de Alterne se vestiu, todo ele em rendas e brocados, tentando fazer-se passar por uma Madame. Resultado: Uma barrigada de riso.

Dono de uma Casa de Alterne, pode vestir-se como quiser e falar tão doce como uma gueixa, no fim do dia, vai cuspir para o chão.

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Andar à volta das prostitutas - salvo seja! - põe-me sempre a pensar em taxistas. Não pá, não é por isso! É porque são eles, as mais das vezes, que asseguram a importante tarefa logística de transportar a profissional ao seu local de trabalho. Ou a fazer um domicilio.

Não vou desatar a falar muito da recente polémica envolvendo estes senhores e outros moços, mais bem vestidos. Desde logo, vocês já perceberam qual seria a ligação com o tema guia desta posta; e depois, o Lápis já disse quase tudo.

Permitam-me apenas duas breves notas:

1. Para o senhor Máximo
A mim não mapanhavas tu, com as tuas falinhas mansas. Olha pá, se eu fosse uma menina virgem, preferia mil vezes ser violada por um tipo de fatinho, banho tomado, num estofo macio de pele. Alguém que depois me desejasse um excelente dia, em vez de me dizer que não tem trocos. Na, nem no campo da violação lá vais.

2. Para o senhor da Federação do Táxi
Então pá? 'Xaláberceupercebi! Portantos, concorrência desleal, beca, beca, uma vergonha, beca, beca, buuu, buu. A menos que te limpem metade dos taxistas teus concorrentes. E os ponham nas plantaformas. É isso? A sério? Fica tudo bem? 

Oh meu amigo, tu fazias carreira no alterne, ai fazias , fazias. É que para meretriz, és demasiado puta.

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Alternando feliz da vida - a TAP é nossa, a EDP é do meu vizinho Lin Chung - o António já leva seis pontos de avanço sobre os tipos que ganharam as últimas eleições. Não admira, vai fermoso e, aparentemente, seguro, acolitado por suas alternadeiras.

Que outra explicação existe para PCP e BE negociarem e aprovarem o Orçamento de Estado que prevê o mais baixo défice de sempre? Cumprindo com as exigências da Comissão Europeia, esses porcos sujos a quem não pagaremos, uma vez que vamos renegociar a divida. Ou afinal não.

Mas é um belo OE, muito erótico até: Entumesce suavemente, mas decidido, o imposto indireto; lubrifica com parcimónia, e contenção, com um aumento da pensão ao senhor de idade; mete a sobretaxa; tira a sobretaxa; mete a sobretaxa; tiiiiira a sobretaxa; ai que não mete mais; mete só mais um bocadinhoooo; ops, vem-se em seco, num crescimento económico anémico. Oh well, esperam que não nos doa muito.

Os políticos, quando nos falam, fazem-me sempre lembrar o Diretor de RH de um Bordel a ler o Job Description às funcionárias: Vão-safoder! Ai vão, vão.

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Vai longo, não vai? E havia 58 milhões de outros assuntos para abordar. Mas está aqui um senhor fiscal da ASAE psicológica, a ameaçar que me encerra a mente, de tanto lixo que encontrou. É melhor calar-me.

Concluo que o negócio da prostituição tem semelhanças várias com o negócio dos frangos de churrasco e, por conseguinte, das SAD: Se correr muito mal, come-se o stock

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If you're feeling down, depressed and lonely: I know a place where we can go...  

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Prova de Vida e ligeira pressão sobre a Mesa do Canto

Extorquido em www.distribuicaohoje.pt

- Olha, olha, o xôr Silva. - Pumbas, palmadão nos costados. - Então o que faz aqui no Mercado Abastecedor, e tão cedo, credo, o meu amigo?

Penso se esta será a pergunta mais idiota que se pode fazer a um tasqueiro, no interior de um local onde se vendem géneros alimentícios frescos. Não é. 

Respondo, a sentir duas costelas ligeiramente doridas:

- Estou à procura de forros para caixões. - Reviro ojólhos.

- Pois claro que está e faz você muito bem. - Completamente alheado. - Ainda bem que o encontro, estava mesmo para ligar para o seu estabelecimento. Mas depois ouvi dizer que tinha fechado e isso tudo. - Condoído.

- Claramente exagerada, essa notícia. Parece a morte do outro.

- Ah, pois, por isso os forros. 

- Hã? - Sinto- me a alucinar. Prefiro cogumelos. - Quais forros, homem?

- Ora, para o caixão. 

- Hã? - Esquecido.

- Oh, deixe lá, já não estou a entender nada disto. Parece uma conversa de mudos.

- De surdos. 

- Opá, tanto me faz o paralimpismo. Irra, que você sempre me saiu cá um chato. Olhe lá, preciso de reservar uma mesinha  na Tasca. É para amanhã.

- Pois considere a reserva feita, muito agradecido pela preferência. - Os idiotas clientes, são o meu tipo favorito de idiota. Acho-os fofinhos, até. - E é para quantos? - A fazer contas: tantozidiotas a tantojeuros dá tantos bilhetes prá bola.

 - Ah, não. - Coça o cocuruto. - Sou só eu, mesmo. Queria uma mesa a um canto, se não lhe parecer mal.

- Isso é que não pode ser nada, homem. Só tenho uma Mesa do Canto. E está reservada. - Com ar de arranja-se já outra.

- Ah, pois, que pena. Majolhe, eu posso esperar, não mimporta. A que horas vaga?

- Pois que não faço ideia, amigo. Pode ser depressa, pode demorar uma eternidade. 

- E você mantém isso reservado na mesma? Sem saber?

- Pois claro! - Resoluto.

- Que estranho. Porquê? - Torce a cara num ponto de interrogação.

- Porque a freguesia faz a casa, meu caro. Há coisas pelas quais vale a pena esperar.

- Como belas mamas, poijé Silva? Seu magano. - Pumbas, palmadão no braço esquerdo. Logo o dos quistos, porra.

 - Isso também, está claro. - Este até pode ser idiota, mas num é parvo nenhum.

Dói-me um braço.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Obituário



A morte é uma tipa eternamente inconveniente. Nunca chega no tempo certo. Não há noticia de alguém, alguma vez, ter dito, ou pensado: Ena pá, olha a Morte. Mesmo na horinha, sua marota. Ainda bem que apareceste. 

Mesmo quando se trata do falecimento de outros, que não do próprio, dificilmente se imagina o advento no momento oportuno. Ou gostamos do proximamente desaparecido - e a sua morte é sempre prematura; ou detestamos o coirão prestes a bater a bota - e, mais educação menos religião, em algum minuto pensamos com os nossos botões: Já vais tarde, seu coirão. Precisamente.

Digamos que, de um ponto de vista logístico, valorizando o conceito de entrega "just in time", a Morte é uma vergonha. Buuu, buu.

Está claro que é inevitável morrer, quanto a isso - batatas - nada a fazer. Um gajo já nasce a berrar e, a mim, ninguém me convence que à primeira palmada sentimos uma dor que nos põe a chorar. 

O que dizemos, a plenos pulmões, é: Fuooooda-seeee, eu não quero morrer! Buuuuuááááááá. Quem não chora, é porque está tão deprimido que já nem protesta. Ou já nasceu morto, naturalmente.

Apesar de tudo, de um ponto de vista prático, a utilidade de pessoas falecerem é inquestionável. Majé pessoas, não é eu. Nem pessoas que não me dá jeito nenhum que sigam desta para outra qualquer. Sinceramente, não vejo porque motivo não poderiam abrir uma excepção para mim e mais uma listinha seleta de indivíduos da minha preferência. É mais indivíduas, até.

...

O tema permite uma multiplicidade de abordagens tal, que dificilmente sairíamos daqui a horas de trabalhar o meio dia da tarde. Por isso, e com grande perda, deixem que me foque exclusivamente no motivo de vos vir secar a paciência hoje: A Morte não é indiferente ao banzé que dela se faz. E o alarido em seu torno, diz dos Povos.

Vejamos, morreu Mário Wilson. 

A maioria de vós, terá deste homem a mesma imagem que eu: Um senhor simpático, que treinou alguns clubes. Grande e reconhecido lampião, uma figura da agremiação de Carnide. Que tenha marcado o desporto em Portugal, pode ser mais discutível. Que seja um marco incontornável da nossa História e da nossa Cultura, ainda menos pacífico será.

Não se escamoteie a importância da bola na Vida, nada disso. Nem sequer a relevância de Mário Wilson para o Clube pelo qual se apaixonou. Tudo isso está muito certo e sou ninguém para tecer considerandos a esse propósito.

A mim, comum não apaniguado do dito grupo desportivo, em condições normais, a notícia devia deixar-me  aquele travo típico: Oh, coitado, morreu. Paz à sua Alma e esperança que a família e amigos se confortem neste hora de dor.

A chatice é que desenvolvi um pensamento analítico que me torna num idiota chapado. Quero dizer, as coisas fazem-me ter ideias e pensamentos e assim. Na maior parte das vezes, é coisas basto estúpidas. Deve ser esse o caso.

E então, estranho que tenha ficado hoje a saber muitas e muitas e muitas coisas sobre o falecido Mário Wilson. Todas desembocando numa grande certeza primordial: Mário amava o 5LB. 

E assim se explica o banzé. Todos os media transformaram o seu espaço noticioso num grande Obituário. Morreu Mário Wilson, o homem que jogou pelos calimeros, mas era dos de Carnide; o homem que se fez homem em Coimbra, mas era dos de Carnide; o homem que, enquanto treinador, ganhou um Campeonato Nacional e duas Taças de Portugal, pelo Carnide. 

Fiquei ainda a saber o que dele pensam - e quanto o consideraram sempre e o muito que com ele aprenderam - inúmeras figuras do nacional fintabolismo. A começar por gente de Carnide. 

E pronto, como era suposto, lá fiquei repreendendo-me por ter, até hoje, ignorado tanto e tantos. Em dado minuto, por breves instantes dele, cheguei até a decidir-me a estudar com afinco a História da Freguesia de Carnide.

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Se vos disser que morreu Herberto Helder, não espero que todos abanem pesarosamente a cabeça, com ojolhos baixos. Porque sois ignorantes? Não. 

O espaço que o HH ocupou nos nossos quotidianos mediatizados, é bem menor do que o que lhe dedicaram pela sua morte. Mesmo sem saber se pugnava pela Freguesia certa, avisaram-nos da sua partida. Brevemente.

Provavelmente, o que se passa é que é mais fácil contar quantos milhões, de  todos os milhões que gostam de bola, são de Carnide. Muito mais fácil do que descobrir as dezenas, de entre os milhares que gostam de ler textos em forma de lista, que sentiram um certo vazio pelo desaparecimento do Herberto.

Simplifiquemos. Como unidade de medida, por grande respeito à propriedade privada, utilizemos a estação publica de TV.

A RTP dedicou à noticia do infeliz desaparecimento de Mário Wilson uma série de, pelo menos, 5 testemunhos, totalizando o tempo de antena de 3'50'' minutos. Estamos a ignorar, por não ter visto, o tradicional "A vida e obra" e, mesmo tendo um grau de certeza elevado, não estamos a considerar que a RTP passou, ou passará, o excerto de determinada gala do 5LB em que Mário Wilson interveio.

Herberto Helder será, segundo doutas opiniões, considerado, em tempo, uma figura à altura de Fernando Pessoa. Goste-se ou não da sua obra, o que esta asserção encerra para a Cultura de Portugal, para a sua História e, acima de tudo, para a parte mais importante do seu Património - que é a Língua - é de tal modo grandioso, que se sente o silêncio que nos invade a Alma. Caramba, Pessoa!

O Herberto morreu há mais de um ano, sabíeis? Se a resposta é não, é porque não estivestes atento ao nosso canal público. De facto, por época do seu desaparecimento, a RTP dedicou-lhe nos seus noticiários este excerto. Totalizando 1'25''.

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Debato-me desde esta manhã com três insistentes desconfortos. 

O primeiro, é uma questão: O que quer isto dizer de Nós?

O segundo, é um esforço - que será bem sucedido! - de vencer preconceitos e estereótipos. Enfim, deixar-me de merdas. A bola é mais abrangente do que a Poesia - e então? Mas quanto disto tem a ver com a importância que nos ensinam a dar a cada uma?

O terceiro, é uma certeza absoluta: Nenhuma freguesia é um País inteiro.

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Para cabal esclarecimento das Almas, diga-se:

Nada contra Mário Wilson. Pelo contrário, repito que me parecia um senhor muito cordial e equilibrado. E simpático, outra vez.

Herberto Helder não está entre os meus autores favoritos. Também não posso dizer que não gosto, porque não conheço o suficiente da sua obra para ter opinião. Sim, é deste tamanho a minha ignorância quanto ao assunto. 

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A poem for obituary: Se o Sul é para trás e o Norte é para o lado, é para sempre a Morte.